DECIMAR BIAGINI

DECIMAR BIAGINI
Advogado e Poeta Cruzaltense

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terça-feira, 27 de setembro de 2011

REESCREVENDO A HISTÓRIA




Todo ser humano
Reescreve sua história
Revelando em outro plano
A outra face de sua memória

Talvez sejam tantos os enganos
Mas uma vida mais simplória
Percebida no final dos anos
Traria na essência outra glória
Que não a dos egos insanos

Muito que carregamos
Na vaidade dos versos
Serão fragmentos sem donos
Pobres fúteis manifestos
Se não dermos ao leitor nosso trono
E sentarmos na plateia, sem excessos

Decimar Biagini

domingo, 25 de setembro de 2011

GLEISERES POÉTICAS



Querido Deus,
Soube pelas notícias
Que filhos seus
Alcunhados de cientistas
Alguns até ateus
Encontraram partículas
Mais rápidas que a luz

Onde estaria Jesus?
Teu filho mais querido
Aquele pregado na Cruz
Por um povo envaidecido?

Teria ele numa partícula fugido?
Para algum planeta de pura luz
Ou teria simplesmente sumido
Para ver o que a ausência conduz

No entanto, certas perícias
Me levam a crer
Perdões a blasfêmia ou malícia
Que em breve vamos ter
Uma única conclusão nessa lista

Que o último avanço na humanidade
Foi a vinda de Jesus nesse planeta
E por isso não me canso de verdade
De querer fugir daqui, na calda de um cometa

Decimar Biagini

POETA AUSENTE


A face de um poeta

Acariciada pelo verso

Beijada pela pétala

Da Musa em fino gesto



E acusa sina perpétua

Num singelo manifesto

A poesia não é sua

Nem de um leitor modesto


E ouve-se lá da rua

Um fã seu em protesto

Pois a letra que ele cultua

Dói silente em seu recesso



Decimar Biagini

domingo, 4 de setembro de 2011

SONETO INOCENTE

SONETO INOCENTE


Trata-se do início
Insiro alguma frase
A rima é o artifício
Sem ponto, sem crase

Abdico da vírgula
E deixo tudo no quase
O improviso é calígula
Imperador de dupla face

Pode ser cruel e facínora
Extravagante no enlace
Tão versátil como uma cédula

Moeda de troca da verve
A inspiração venderá a candura
Antes que o poeta a preserve

Decimar Biagini

sábado, 3 de setembro de 2011

o legado da poesia


Creio no silêncio deste papel escrito,
que representado pela janela virtual,
busca dizer o que eu jamais havia dito,
quedando violinos da poesia usual.

Não quero mais a sílaba desconfortante,
irritada por lembranças que me fazem mal.
Outros dias virão num simples instante,
em que tentarei buscar a palavra ideal.

O pão então será repartido entre muitos,
alguns despreparados não terão um sinal,
pois nessa infomaré de tantos assuntos,
até a poesia de Pessoa pode parecer sem sal.

Virá então a queda do poeta. Como não?
Essa é finalidade da semântica existencial.
Restará sucumbido, e outros dias virão,
E aquela seiva em um atento vencedor,
como toda primavera que antecederá o verão,
será a esperança, flor do pântano: o leitor!

Decimar Biagini

O JULGAMENTO DO POETA

O JULGAMENTO DO POETA
Inicialmente fora ouvido
o delinquente envolvido
Depois veio o ofendido
Daí, o testemunho inquirido

Novamente, o acusado
Para possibilitar a ampla defesa
Ele já estava cansado
Como toda alma muito tempo presa

- Exa! Por que estou algemado?
Qual foi o crime, doutor?
Que eu saiba, só estou condenado
A sofrer as penas de amor

Sempre gostei de mulher bonita
Mas procuro só ganhar as solteiras
Presenteio as prendas com fitas
Do melhor cetim que encontro nas feiras

Faço versos e toco o banjo
Nas noites enluaradas
Poucas quizílias arranjo
Pois fujo das janelas casadas

Me diga então, meu prezado,
Em que enrascada estou metido
Se nada fiz de errado
Acho que trocaram o envolvido...

Tu fostes levado a este juízo
Por razão de uma denúncia
De que por conta do teu improviso
Conquistastes uma leitora jagunça

Ela adentrou no congresso
Como se fosse um mar desmedido
Os deputados estavam a fazer bagunça
Um dep. palhaço fazia piada após seu ingresso
A dita cuja leu em poema tua denúncia
Matou todos, e suicidou-se em protesto!

Doutor, se fiz poesia com fermento
Faltava açucar ou sal antes do fogo
A interpretação gera relativo sentimento
Jamais escrevi por mal, o poema é um jogo

Falando isso, o Poeta foi julgado na sexta-feira
Saiu do presídio mediante escriturado engodo
Escreveu um poema destinado a carcereira
Conquistando-na, ela colocou a mão no fogo

Hoje, após esta trajetória acima rimada
até que o tempo assinale liberdade de expressão
O poeta viverá com sua anistia em Pasárgada
E qualquer coincidência com a realidade, é mera impressão

Decimar Biagini e Marisa Schmidt
Eclipses da meia idade


Ele chorou quando a perdeu
Olhou para seus filhos crescidos
Olhou no espelho cabelos envelhecidos
E tudo mais a tristeza proveu

Ele ficou sem sono, tomou uma canha
Ligou para a mulher, outro atendeu
Assim é a vida, que sina medonha
Ninguém sabe o que quer, o óbvio aconteceu

Decimar Biagini
EU ANDEI MAS NÃO DECOLEI
Andei em cima da casa
Andei embaixo do chão
Não voei por não ter asa
Mas fui longe com o coração

Decimar Biagini
CLEROS, COPAS, CASTIGOS, CORRUPÇÃO

Clérigo, Channing
consumiu consciência
Cerebrados cardíacos
Com certe conveniência

Concorreram como consultores
Cobraram certas comissões
Com carimbo corrupto
Comoventes conclusões
Convalidaram certames

Copas compradas
Com colaboração consumeira
Convocaram contadores
Comentam cientistas com comida caseira
Coçando couros cabeludos
Com classes castigadas com concepção coveira
Concluindo com certa ceticidade
Com cabeças comandadas
Copa criará crise costumeira

Cecimar Ciagini

 RUBOR DA NATUREZA
_____________________________________
Ele pega na mão dela
Ela se afasta lentamente
Separados pela janela
Eles parecem tão sorridentes

A doce inocência
Um desvendar interiorano
Sem TV, sem demência
Devagar quase parando

E seguem namorando
Com a supervisão da espingarda
- Vou lá, estão me chamando
Diz com vermelhidão em sua pele parda

- Tudo bem meu amor, fico esperando
- Casamento na roça é sério, mas não tarda!

Decimar Biagini
Dormindo ao Relento

Primeiramente fui até a esquina
Procurei conhecer os transeuntes locais
Não queri acelerar minha sina
Deixei florescer minhas defesas usuais

Um homem chamou minha atenção
Disse para não deitar perto do arbusto
Pois ali era cama certa da prostituição
E eu sofreria com um tremendo susto

Foi quando percebi uns menores em risco
Eles utilizabam um cachimbo adaptado
Passei a mão no bolso, não havia pensado nisso
Disse para eles procurarem um albergado

Sentei então na grama, nada parecia ameno
Olhei para cima, para baixo, o sono era forçado
Senti saudade do meu pijama, e do meu colchão sereno
Encontrei uma prima, que me deu um recado
Volte já para sua cama, aqui não é o seu terreno

Coloquei tudo no notebook, pensei na dor de todos
Li um poema do Wasil Sacharuk, e desisti daqueles engodos

Decimar Biagini
Por que é assim?


O verme nasce
O verme morre
O velho cresce
O verme envelhece
O verme come
O verme fenece
O verme tem fome

Não necessariamente
nessa mesma cronologia
Ora o verme é semente
Ora o verme é poesia

Decimar Biagini
A malícia habita os olhos


Peço agora
aos nossos amigos espritituais
O olho que chora
Também desperta pecados mortais

Uma pena que as coisas sejam assim
Muitas almas fogem dos hospitais
Recorrem aos médiuns, recorrem a mim
Por isso das poesias com mananciais

Que faço questão de lavar a alma
Daquelas incautas criaturas
Que no improviso, não vêem a própria palma
Sequer traçam conjecturas
Por isso peço a Deus que tenha calma

Não os penitencie no vale dos perdidos
Que possam livrarem-se dos seus traumas
E que seus erros não sejam desmedidos
Ao ponto de olharem com o mal das chagas

Decimar Biagini

UMA SOGRA CHAMADA ESPERANÇA

UMA SOGRA CHAMADA ESPERANÇA

Ela acordou, colocou suas havaianas
Atravessou o pátio, bateu roupa
Depois ouviu bem alto músicas castelhanas
Chegaram os netos, escondeu a sopa

E o genro ouviu e viu tudo isso na janela
Tudo por que era impossível dormir lá com ela

Decimar Biagini

PARA ONDE FOI O ROMANTISMO

Para onde foi o romantismo?

Partiu não tem nem dez minutos
Levava consigo um ramalhete
Dava atenção à Musa e seus assuntos
Rabiscava tudo num bilhete

Deixou então na janela da prometida
Depois partiu em tom de despedida
Pediu que não abrisse, até seu retorno
Ela não quis então esperar, fê-lo corno

Decimar Biagini
POR QUE O POEMA?
Eu já pensei muito nisso
Não cheguei a uma conclusão
O leitor não tem a ver com isso
Mas não custa nada a boa intenção

Eu já fiquei de olhos vermelhos
Olhando para esta tela azul
Poemas, eu já fiz mais de centenas
Decerto o leitor já me olha nu

Quantos relatos, quanta catarse
Quanta ficção ou história aqui do sul
Dizem que é da verve, que tudo nasce
Hoje deixo sem resposta, aqui, mais um

Decimar Biagini
Incendeia minha alma




A verdade do nosso poema
Pode, no entanto, sofrer uma alteração
Para que possa valer a pena
Sob o manto, da vencedora argumentação

Homens são mortos e feridos todos os dias
Nessas circunstâncias, poucos lembram da alma
Fazem covas aos corpos, com pomposas honrarias
Mantêem distância, mais precisamente sete palmos

Posso ter esquecido de alguns detalhes
Mas os entes desencarnados, tão esquecidos
Pedem uma frase antes de conhecer outros vales:
- Incendeia minha alma, ore por mim, meu ente querido

Decimar Biagini

AO LC

AO LC

Luiz Carlos, de escrita sublime
Muistos são os calos, somos do mesmo time.

Oxalá os teus comentários
Sirvam para o ego ligeiro
Mas teus poemas bons são vários
Por isso lhe tenho como parceiro

Encilho aqui meu pingo matreiro
Para visitar tua solidariedade
Com a alma de parelheiro
Agradeço tua cumplicidade
indo dormir bem faceiro.
Pois não há nesse mundo dinheiro
Que pague a tua amizade.


Decimar Biagini

ALMA POÉTICA


ALMA POÉTICA

Quanto mais eu escrevo
Mais me contradigo
Sou alma em alto relevo
O que digo logo desdigo

Arquiteto versos e me atrevo
Na esquina do improviso
Com adrenalina em meus nervos
Almejando no leitor um sorriso
Ou então o despertar de medos
Pescando sua dor sem caniço

Quero a eterna combustão
Enquanto minha verve permitir
Revelando-me sem exatidão
No pranto que me faz mentir
Suando sem derivar da profissão
No encanto do poema a esculpir

Eu choro, eu grito, eu danço
Eu levo à musa para casar no parnaso
Eu imploro, eu brigo, eu canso
Me atrevo a versejar sem embaraço

Morro e renasço ardentemente
Desvendo-me na cegueira do ego
Socorro com abraço comovente
Perfumando-me no jardim que rego
Escorro pelo laço contradizente
Buscando em mim a rima que prego
No forro do teto adjacente
Carregando um querubim e um diabo

Decimar Biagini

MUNDO DAS LETRAS

MUNDO DAS LETRAS

Caminho por trilhas
De um certo mundo
Diferente dos demais
Que não é imundo
Nem fétido por demais
Um mundo fecundo
Das obras ancestrais
Das letras de fundo
Dos poetas imortais

Decimar Biagini

NUANCES REFLETIDAS

NUANCES REFLETIDAS


Eu já estive cansado
De olhar para este rosto
Naquele espelho trincado
Que só me trazia desgosto

Mudei então de estratégia
Tratei de fazer a barba
Num lago com vitória régia
Talvez o leitor não saiba
Mas tal planta não tem raiz

Peguei a dita e larguei na fissura
Agora ela enfeita minha cicatriz
O mesmo espero da poesia pura

Decimar Biagini
MALA SUERTE

O cara acordou
meio azarado,
ao comprar pão,
foi assaltado.

Não estava acostumado
Com a rotina do Brasileiro
Pelo ladrão foi logo sacado
Como sendo um estrangeiro

Voltou para casa
meio assustado,
o carro enguiçou,
queria dar queixa ao delegado
chamou um mecânico,
o cambio havia ajustado
mas o freio estava falhando

Indo para a delegacia
meio apressado
atropelou uma Azulzinha*
em cima da faixa de pedestre.
Bem azarado
Já não adiantava nem prece
Foi preso por omissão de socorro
E quando trancafiado
Com um cara
do tamanho de um cipreste
Reconheceu ser o mesmo
que o havia roubado
Não havia juiz na vara
com um azar da peste
Sequer teve advogado
A menos que o ladrão lhe empreste
Não teria qualquer trocado
E para completar o tribulado teste
Chegou um estuprador
Que lhe olhava com agrado
Veio o carcereiro cretino
E lhe deu um recado
Escuta aqui o argentino
Teu passaporte tá expirado


Decimar Biagini

CHASQUE

CHASQUE DOMINICAL

Voa nesta poesia
Cortando os pagos
Pois tua parceria
É honra sábio mago

Já larguei da rebeldia
depois de uns tragos
comecei cedo do dia
que o domingo é vago

A friagem entra na noite
Arrepia até o candeeiro
O zinco já aponta um corte
Só o poema de companheiro

A TV só fala em morte
e político traiçoeiro
a rodada dos esportes
e jeitinho brasileiro

Talvez eu tenha sorte
De trocar versos com o parceiro
São Lourenço lá no sul do potreiro
E Cruz Alta quase rumo ao norte
O vento minuano chega matreiro
Enquanto o potro relincha sem sorte

E decerto o amigo vate
pajador de verso ligeiro
vai passar o domingo faceiro
com vinho, costela e mate
pois é um poeta altaneiro
do mais bagual dos quilates

Durante a manhã, no costado da casa
Caiu um passarinho, morto pela geada
Enquanto o poeta almejava ter sua asa
O ser livre morria na fria madrugada

Essa vida algoz tanto cria quanto mata
vivente saido do ninho e caido na vala
poeta não é imune igual diplomata
carrega uma rima na cueca e na mala

No silêncio de um pensamento
Cerro idéias puras e nítidas de amizade
Agradeço ao amigo pelo intento
De replicar tal poesia com sinceridade

Que o pensamento seja o momento
de traduzir nossa cumplicidade
com estrofes cruzadas no vento
e hermana certeza de continuidade.

Decimar Biagini & Wasil Sacharuk



POR QUE SUMISTES WASIL?

Sempre que posso
No galope da vida
Torço o pescoço
Para espiar tua lida

Vou conversar contigo
Nessa ferramenta bendita
Te considero meu amigo
Não me abandones na escrita

Tua verve me ensinou
A afiar a daga em pedra grossa
O fio no dedo me cortou
Para selar nossa poesia honrosa

Fomos irmãos das letras
Me chatea teu sumiço
Mamamos nas mesmas tetas
Agora nem mesmo isso

Vai cortando um raminho
De um pastinho da tua terra
Para explicar com carinho
Pois a saudade é maleva

Decimar Biagini

MORDENDO A LÍNGUA

MORDENDO A LÍNGUA

Michael Jordam e suas enterradas,
pulando da linha do lance-livre,
Ganhava jogos com belas passadas
Chamado de Air Jordan inclusive

Jordan foi o melhor dos melhores
O maior marcador que o basquete já viu.
Com o Chicago Bulls e seus escores
Ganhou fan club até mesmo no Brasil
Trinta pontos em quinze temporadas
Média que até hoje ninguém atingiu


Lá pulava Jordan, mordendo sua a língua
E foi assim, que muito torcedor sorriu!

Decimar Biagini

DOMINGO EM CRUZ ALTA

O DOMINGO EM CRUZ ALTA

Resta, ainda, a beleza das manhãs em solitude
Inestimável companheira da findável juventude
Louvado seja o sol que toca minha janela
Hora de fazer um mate, e esperar por ela

Enquanto a torneira faz correnteza
Observo atentamente a chaleira
Lá fora, a geada, fenômeno da natureza
Abençoou o domingo, em cristalina maneira

Até os objetos que nos cercam
Começam a murmurar em poesia
Que esses versos também sirvam
A alegrar mais uma alma em seu dia

Decimar Biagini
 
JUNHO DE 2011
SILÊNCIO DOS MONTES
Decerto não há
Decerto não houve
Decerto não dá
Nem mesmo um pé de couve

Lá em cima é árido
Com frieza existencial
Meu verso é pálido
Com rima sem sal

Vencido o silêncio
Decerto não haverá poesia
A palavra é mutilada
Sequer alguem, sequer um lenço
Voa a mente na alvorada
Talvez salte do pico nesse dia

Decimar Biagini

CONVERSA COM O LEITOR

CONVERSA COM O LEITOR

Eu andei colocando a mão no fogo para ver se queimava.
Eu andei bebendo a água enquanto a sede me matava.
Eu andei desafiando a gravidade enquanto ria e pulava.

Pelo fato de andar muito, para muitos aquilo era poesia.
Mesmo assim nessas andanças, sequer disso eu sabia.

Decimar Biagini
CHAPÉUS DA ALMA

Olho sem sofrimento
Com o silêncio costumeiro
Na pureza do pensamento
De quem vê o tempo passar ligeiro

Olho, pois olhar é o meu intento
Não vejo alegria no dinheiro
Pois não passa de um instrumento
Que representa o vil, o passageiro

Já a paz, que vem de dentro
É Deus, o grande conselheiro
Em companhia naquele momento
Mestre silencioso, mágico chapeleiro!

Decimar Biagini

OS PÁSSAROS - ANTÚRIOS DA LIBERDADE


Semeie seu canto
Revele seus mistérios
Derrame seu pranto
Sobrevoe impérios

Nao deixe que as gaiolas
Sejam lamentos de vida
Não gosto das jaulas
Carcereiro não traz guarida

Deixo apenas um pote
Cheio de àgua no quintal
Sua sede é meu mote
Esperando um recital

Qual será o próximo pássaro?
A trazer encanto ao jardim
Tantos anos já passaram
Tais mistérios não tiveram fim
A poesia vista daqui
Será sempre uma saideira para mim

Decimar Biagini


* A flor antúrio representa a harmonia da natureza, venezuelana ou colombiana, considerada uma das flores de maior valor unitário. Fonte: joga no google e cata!

A ACOLHIDA

A ACOLHIDA DO LEITOR
Mostre-me a direção
Querido leitor atento
A poesia e a divagação
Já não me trazem alento

Quero um pouco mais
Que aquele ardor da empolgação
Cansei do tanto faz
Preciso recuperar meu coração

Deve estar em algum lugar
Batendo em alguma porta
Diga-me, basta apontar
Quero o abraço que conforta

Decimar Biagini

A VIDA PLENA


Quem um dia irá dizer
Que já sentiu o bastante?

Compreendo o desespero sem limites,
Percebo de repente, sem nada ter gasto,
Sem nada ter consumido, sem ter requintes,
saindo de mãos vazias, feito boi sem pasto.

Tudo seria tão leve, alto, estaria no céu dos homens felizes,
Não teria responsabilidades, nem discutiria heranças e matizes.

E assim, nessa irrealidade idealizada em devaneios, repararia no amor.
O despiria de toda vaidade, de todo orgulho mundano, tal qual uma plástica flor.
Não deflagraria sequer uma cápsula de pólvora, pois jamais sentiria dor.

Todos os meus ângulos seriam fotogênicos e faria discursos.
Não teria sequer um nome, numa eterna expectativa, de novos percursos.


Decimar Biagini

DEVANEIOS DE AMOR

DIA DOS NAMORADOS


E assim se faz o domingo
Que já diz, longe de minha amada
Que nada parece lindo

Observo uma flor no vaso
Tão infeliz, na sua tragédia decorada
E o improviso vai saindo
E assim vou dando azo
As flores de papel, em sua triste jornada

Longe do ideal parnaso
Sequer há leitores sorrindo
Com esta rima desenganada

Segue a flor, num vaso, tão assustada
Presa ao destino decorativo
A cada dia se consumindo
E eu, longe de minha namorada
Sequer vejo nesse 12 de junho um motivo
Uma expectativa se indefinindo

Que se escreva no papel tal página virada
E que sirva tal façanha de lenitivo
A poesia amorosa que foi emergindo
Daquele vaso que abriga a flor desolada

Decimar Biagini

DEVANEIOS DE AMOR

DEVANEIOS DE AMOR


No latim, mors, ou, simplesmente, a morte
No latim obitu, ou, peculiarmente, em má sorte
Há ainda, quem fale, comumente, em desencarne
Há ainda, quem cale, dormente, sem norte

Um fenômeno natural, talvez alguém assim o defina
Uma infortúnia abissal, da qual alguém se definha
Um sinônimo usual, que assim se procura
Para um final, muitas vezes sem a cura

Talvez eu ame, e viva, por auto-ternura.

Decimar Biagini

MÃO DUPLA

Mão dupla

Sim, o farol alto
Já predestinava
O fim do incauto
Enquanto desviava
Do buraco no asfalto
O bêbado o ofuscava
Tomando sua vida de assalto

Decimar Biagini

FLORES

Banheira de flores

O marinheiro
Navega com esperança
Vem o nevoeiro
E a sorte então se lança

Perde o timoneiro
E também o Sancho Pança
Seu fiel cozinheiro
Não sabe qual é a doença
Chama Deus de traiçoeiro

Coloca flores na embarcação
Um funeral com sinalizadores
Rum ameniza a desencarnação
E o ritual espanta as dores
Do velho barco e seu capitão

Decimar Biagini

PARA OUVI-LO

PARA OUVI-LO


Por que essa ansiedade de retornar
Cuja lembrança perdeu o caminho?
Risos de criança, paraíso salutar
Luta de voltar para casa, sozinho

Hoje olho para tudo, fórum, processos
A semana rompe o silêncio da noite
Paro em alguns versos, em regressos
Absorvendo as feridas de cada açoite

Intercalado de silêncios primitivos
Muito escrevo, leio menos ainda
São os pensamentos, eternos fugitivos
Ainda perdido, mais um poema se finda

Decimar Biagini

MUSÓFILO

MUSÓFILO
Uma quietude larga
Rompe o peito na solidão
Dor que o tempo apaga
Tão logo surja a idealização

Um mundo de amor
De projeção e frustração
Cujo poeta é o ator
De linguística indagação

Ama, ou finge?
O resto é interpretação
Mistério da esfinge
Ou cérebro, ou coração

Esse leão estendido
Cujo ego inflama em verve
Se pelo leitor não é entendido
Ao poeta nada serve

E a Musa está lá
Presa no sarcófago
Protegida por Rá
Libertada pelo Musófilo

Decimar Biagini

MUDANÇA

A MUDANÇA
Quisera despojar-me de todo seu suor
Naquele dia em que a vi de calcinha
Naquelas linhas, que a três anos sei de cor
Como as folhas do abacateiro vizinho

Sentir-me limpo e de coração puro
Com galhos ríspidos, focados em seus joelhos
Tanto faz, se na luz ou no escuro
No clarão dos olhos, fomos tições em espelhos

Amo-te, vou seguindo nosso caminho
Nas censuras de cada linha lírica
De que valeria a seda e o nobre linho
Se primitiva e selvagem não fosse a música?

Miserável regime, que no primeiro porto
Quisera nos afastar em um mercado
Em troca da passagem de volta ao conforto
Quis o destino nos fluir um verbo amado

Risos, sentimos no rosto a poesia como fluxo
Em sangue quente, numa semana intemperança
E a lembrança desse casal do mate, tão gaúcho
Resgatamos nas frias tardes, a onírica esperança


Decimar da Silveira Biagini

IMIGRANTES

IMIGRANTES (IMPROVISO NA NOP)

Enquanto pedia àgua
Observei teus traços
De onde trazia sua mágoa
Com sorrisos tão escaços

Receiares teu futuro
Renegares teu passado
Pulaste aquele muro
E agora se diz libertado

Mas já disse, te observei
Enquanto tiveres por distração
As amarras que fitei
Não te livrarão o coração

Não é a tua vida
Não é o teu destino
Aqui não terás guarida
Senão te jogares ao desatino

Tome esta bebida
É cortesia da casa
Que esta tristeza escondida
Com poesia logo passa

Decimar Biagini

CHASQUE

CHASQUE DOMINICAL JUNINO (AO WASIL)


Tu sabes amigo,

Que me sinto um burguês cansado
Ando aflito pelos botecos virtuais
Até da poesia ando quase enfarado
Busco socorro em parcerias baguais

Já pensei em deixar de tudo
Menos de chasquear contigo
Contigo eu falo, mesmo mudo
Pois entendes até a rima que ligo

A morte parece não te amedrontar
Já disseram pelos becos, que havia sumido
Bem entendo, é dura a dor lombar
Mas saibas que mesmo assim tenho te lido

E sempre que fraquejares,
por conta da 3g lenta
Tente mudar os ares
Jante rimas com polenta

Pegue os desenhos das crianças
Rabisque nas provas da Dhenova
E assim, com risonhas lembranças
É que essa nossa amizade, se renova

Decimar Biagini

O PESADELO ROMANO

O PESADELO ROMANO

Antes de dormir
Meus pensamentos
Soltam gladiadores
Tento me despedir
Por alguns momentos
Mas sigo tendo dores

À noite, quando durmo
Abre-se um anfiteatro
O pesadelo de consumo
Não o sonho de fato

E esta luta, com polegar negativo
Em que imploro ao imperador
Sem que haja um razoável motivo
É quando acorda o gladiador
Mais um dia! Ledo incentivo

Decimar Biagini

PRÓXIMO AO ANIVERSÁRIO

PRÓXIMO AO ANIVERSÁRIO

Aqui em Cruz Alta
Onde o vento corta a cercania
O poema me faz falta
Pois não vivo sem poesia

Tem uma semana
Que entre chuvas
E relampejadas profanas
Deixei as rimas viúvas
Ficando com Musa, feto e pijamas

Decerto que a vida é passageira
Assim como o calor de um verso
Mas hoje, nessa quente Sexta-feira
Resolvi deixar meu manifesto

Estou feliz, quero registrar
Dia 31 de julho farei mais um ano
Pois de que vale o poetar
Se não exposto ao leitor Hermano

Decimar Biagini
30 DE JULHO

O REI ARTHUR

O REI ARTHUR


Em menos de um mês
Muita coisa mudaria
Teu nome escolheria
Igual ao nobre inglês

Durmo fazendo-te afago
Converso contigo
Com a Musa ao meu lado
Beijo teu umbigo

Decerto não pensei
Que um dia seria pai
Hoje te nomeio Rei
E o pensamento vai
De encontro ao que não sei
Mas em alguns meses logo sai

Então serei amigo do Rei
Sem ir embora para Pasárgada
Divina é a paterna lei
Cuja vela não se deixa apagada

Decimar Biagini (Pai babão)

O RETORNO

O RETORNO


Nesses vinte dias
Em que estive afastado
Das ditas poesias
Eu andava tão ocupado
E o leitor não sabia

Mudei para o outro lado
Da cidade onde nasci
E o verso improvisado
Ficou parado, nem percebi

Hoje, abri a comuna
Sem maiores interesses
Como político na tribuna
Fiz discursos cem vezes
E antes que o leitor suma
Num desses ausentes meses
Fiz do poema minha sina
Comparecendo em chás ingleses

Talvez eu não saiba mais escrever
Tenha perdido a acidez e a insolência
Mas saibam que antes de morrer
Tive amigos, senti saudade, tive paciência
E nessa espera, hoje retorno a ser
Um poeta, com o improviso na essência

Decimar Biagini

CORRUPTO MODERNO


Almejei tocar nas nuvens
Beber água noutros planetas
E numa dessas vertigens
Sugava em públicas tetas.

Era um coronel do sertão
Aposentado das tretas
Tinha motorista e mansão
Ganhava quantias pretas.

Com aposentadoria vitalícia
Ao custo da valentia e da malícia
E passou-se o século vinte.

Já os políticos atuais, com perícia
Sem capangas e mais requinte
Compram sigilo e federais. A nova milícia.

Decimar Biagini

MEIA NOITE

MEIA NOITE


A lua por ser andeja
Sumiu nessa quinta-feira
Por mais que não a veja
Espero que a Musa me queira

Do contrário, nem a cerveja
Nem a ressaca pós bebedeira
Nem o céu que hoje relampeja
Me faria esperar a sexta-feira
Nessa verve que a rima beija

Decimar Biagini

ANIVERSÁRIO DE CRUZ ALTA

Aniversário de Cruz Alta

No alto das coxilhas
Jesuítas ergueram uma cruz
Bandeirantes fizeram trilhas
Mulheres guerreiras deram a luz
E as crias seguiram milhas

Érico Veríssimo, grande escritor
Pinheiro Machado, o senador vigoroso
Salatiel de Barros, coronel lutador
E outros cruzaltenses, honraram seu povo
Prudêncio Rocha, fiel historiador
Heitor Saldanha, poeta auspicioso

Fiz essas rimas em versos insanos
Para dizer que minha terrinha
Completa hoje, cento e noventa anos

Em 18 de agosto de 2011.
Decimar Biagini

SILENCIAR MOTIVADO

SILENCIAR MOTIVADO


O poeta despido de vaidades
É um leitor de sensibilidade calada
Deixei de escrever certas verdades
Só o amor, tem ficado comigo na madrugada

Entre uma manhã com a musa
E um deitar tranquilo e silencioso
A poesia parece andar reclusa
Em um versejar já nem tão vigoroso

Decimar Biagini

TROPILHA DE RIMAS

TROPILHA DE RIMAS

Hoje me sinto
Despido da poesia
Por isso minto
Mais do que eu queria

A rima ainda se encontra
Lá no fundo de minh’alma
E o leitor se pergunta
Onde o poeta perdeu a calma?

Cansei de fazer poema
Mas a atividade lúdica me atrai
Pôr a rima no esquema
Ver como o improviso se sai!

Saudade, sim, dos amigos
Dos poetas parceiros
Dos leitores de meu umbigo
E dos inimigos traiçoeiros

Agora, que me despeço sem glória
Fazendo trilha com patas leves
Com tropilhas de rima na memória
Me sinto no fim dessa lúdica história
Um lobo sem matilha, com poemas em greve

Na Cruz Alta-RS, aos 12 de agosto de 2011.

ENQUANTO ARTHUR NÃO CHEGA


Sagrada manhã
Em que me despeço da amada
Prometendo poesia sã
Depois corro para a cozinha ensolarada

E lá preparo um cappuccino
Fatio o panetone com delicadeza
E lembro do tempo e menino
E a lagrima escorre com nobreza

Faltam pouco mais de dois meses
Para o anjo prometido vir ao mundo
Então serão três cafés por vez
Agradeço a Deus por ser fecundo
E por poder escrever isso a vocês

Decimar Biagini

TRISTEZA DE UNS IDÉIA DE OUTROS


Bom dia menino
Qual seu nome
Me chamo de Jesuíno
Estou com fome

Fiz só uma pergunta afinal.
Como assim Doutor?
Procure a assistência social
Meu setor só verifica dor

Mas Doutor, estou com fome, pelo amor de Jesus
Ótimo, vou prescrever este remédio aqui
E o menino seguiu com a receita do SUS

Chegou num ministério
e pedia dinheiro para comprar remédio
Ninguém o levou a sério
Então o menino viu um careca de porte médio
Seu nome era Valério

O menino perguntou se ele trabalhava ali
Com um sorriso irônico falou que praticamente
O corrompedor de recursos sugeriu que saíssem dali
Disse que não poderia dar dinheiro, mas era influente

Conversou com o Ministro e sugeriu a farmácia popular
O menino morreu antes que o projeto fosse aprovado
E Valério em enriquecer sinistro viu a falácia encorpar
Pegava dez por cento em todas as licitações do seu Estado

Decimar Biagini

CONTANDO OS DIAS


Durante a jornada
Na espera do prometido
Entre desejos na madrugada
E o sonhar com o menino

Convivo com chutes
Na prospecção das mãos
Os pais são ogros rudes
Mas com molenga coração

Arthur está com um quilo
Entra no sexto mês de gestação
Na cozinha hoje me viro
Fazendo janta com inspiração

Já revirei todos os manuais
Li vídeos no tal do youtube
Não há o melhor guia para os pais
Trata-se de instintiva atitude:

- O amor incondicional!

Decimar Biagini

AO AMIGO WASIL

AMIGOS PARA SEMPRE


Irmão, eu andei perdido
Entre náuseas e tonturas
Em um tom despedido
Longe das conjecturas

A vida foi mais espontânea
Que o próprio improviso no verso
Sei que tu cruza a costa litorânea
E que um amigo distante é perverso

Mas continuarei mateando contigo
De uma forma ou de outra
Por vezes leio-te num ensolarado domingo
Com rédea curta ou solta

Se algo digo logo desdigo
A contradição de poeta é latente
Mas uníssono é o ar de amigo
Que corre a bomba na água quente

E nesse sorver da tua poesia
Relembrando épocas de parceria frequente
Surge então a lágrima de alegria
A mesma que te elegeu parente

Irmão das letras
Mamando nas tetas
Da poesia eloquente!

Decimar Biagini

ESMOLA LITERÁRIA

Esta febre, que determinei de gripe poética, foi casebre, de virtualizada dialética. Que se quebre, quem foi rei nessa hermética. Virei plebe, hostilizado em leitura cética. Parcas linhas Com subterfúgio de rimas Divagações minhas Com recurso lúdico de limas. Tanto limei as arestas do meu destino Que de poeta virei mero trovador. Tanto joguei com o frio em meu intestino. Que termino esse poema sem fervor. Talvez alguma interpretação consolativa Ou a confissão de outro poeta vencido pelo desânimo. A verve é mesmo assim, nada explicativa. E o coração absorto se projeta convencido por um anônimo: - O leitor! Decimar Biagini

O ÚLTIMO BANDEIRANTE

No alto de uma coxilha, um bandeirante encontrou um tarumã, deitou-se na busca de repouso, quando adentra no raio da sombra daquele símbolo imponente da vegetação gaúcha, escuta um trastejar similar ao de uma ondulação lateral, rapidamente sente um puxão nas suas pernas, seu corpo estremece e flexiona os joelhos, pensou na possibilidade de uma serpente, no entanto, tratava-se de uma arma muito silenciosa e peculiar naquele local, a boleadeira de um charrua, o forasteiro paulista aproveitando a posição favorável, puxa seu crucifixo e começa a rezar, quando o índio identifica tratar-se de uma cruz jesuíta, desencilha o suplicante, e, de forma implacável lhe arranca a relíquia e mostra uma pintura da Missão onde fora criado, tratava-se da mesma cruz que fora saqueada por bandeirantes em pouco menos de trezentas léguas dali, o bandeirante é então crucificado numa alta cruz de canjerana, a última coisa que viu rastejar foi o fado de sua vida bandoleira e ambiciosa. Decimar Biagini

QUERER POÉTICO

Quero sentir A última rima Num porvir De quem ensina Quero sentir Muito acima Num desmentir De quem aproxima Quero sentir Muito me anima Num despedir De quem se apruma Decimar Biagini

O SENHOR DAS MAÇAS

Quando pequeno Achava ser diferente Ter um plano terreno Aquilo não saia de sua mente Agora, é simplesmente Um pulverizador de veneno Na fazenda de um parente Colhendo maça – o fruto obsceno Mira o pomar prostrado Sozinho à janela Suspira com pesar, frustrado Sequer uma donzela Tampouco fora herói honrado Na cisma sombria frequente Amarga o resto de sua pobre vida Sequer apareceu a serpente Para lhe ofertar a maça prometida Um Adão sem Eva, sem pecado Um pequeno menino assustado Que se escondeu na tirania dos anos Envolto em um casco ressecado Sem sonho, apenas mais um ledo engano! Decimar Biagini

Qual tema nos poemas mais te atrai?