DECIMAR BIAGINI

DECIMAR BIAGINI
Advogado e Poeta Cruzaltense

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domingo, 30 de março de 2025

Hino

Hino ao Filósofo Autossuficiente 
Em abismo insondável a mente é chamada  
Na senda infinita que a Deus nos conduz  
Se a essência do Alto nos vela a jornada  
Razão e mistério são só uma cruz  

O verbo divino em silêncio se oculta  
E a forma criada em sua alma o contém  
Do Uno provém esta chama indulta  
Que em rédito santo retorna ao além  

O homem é espelho da pura verdade  
No tempo finito é sopro imortal  
Se ao lume sagrado se rende a vontade  
O cosmos renasce em fluxo eternal  

A graça fecunda a visão que ilumina  
O Verbo é ciência, é vida, é ser  
Na sombra da carne se oculta a doutrina  
Mas nela resplende a luz de saber  

E ao fim da jornada, no seio do nada  
O Todo se curva ao Eterno que é  
A mente retorna à fonte sagrada  
E em Deus se dissolve o ser que já é 

Decimar da Silveira Biagini
Na Cruz Alta-RS, 30 de março de 2025

Olhares de duas crianças

Se este sorriso não é a realização dos pais, então não há mais sal na terra!

A Seara do Coração

A Seara do Coração
No peito humano, há fértil lavrador  
que semeia, em surdina, a própria sorte  
Se planta amor, recebe igual valor  
mas, se há rancor, a seara é de morte  

O tempo é argila, em mãos do Criador  
que molda a fé no alicerce mais forte  
Quem crê, renasce em graça e esplendor  
quem nega a luz, vagueia rumo ao corte  

Por isso, vela o campo do sentir  
pois do teu peito os frutos brotarão  
O verbo é a seiva, a vida a conduzir  

e a poesia é a flor da redenção  
Entrega o dia a Deus, deixa florir  
a fé que faz pulsar o coração

Poesia Consciencial

Poesia Consciencial
A poesia é isso aí
Não há o que esperar
Por vezes faz sorrir
Noutras faz chorar

A poesia é a vida
No bolo a cereja
É a paixão obtida
A verve na bandeja

Pelo espírito é ornada
Com gratidão e guarida
Sem poesia não há nada
Egolatria jaz esquecida

Alquimistas do tempo
Melhor amigo de si
No verso sem sofrimento
O poeta com ela ri

Mas há aquele momento
Da catarse prisioneira
Amarras do pensamento
Mera miséria passageira

Estações correm em flores
Males já apaziguados
Filhos, livros, plantas e amores
Sentir os poros arrepiados

Decimar da Silveira Biagini
29 de março de 2025

Um Novo Fim

Um Novo Fim

Se o fim se avizinha em sombra e dor  
Lembra, alma errante, pelo Chico Xavier:  
"Refaz-se a estrada em luz, se há amor  
E cada passo é um renascer"  

Nietzsche diria: "torna-te quem és"  
E em novo fim renasce o ser  
Já Sartre, austero, brada em viés:   
"O homem é livre para escolher"  

Camus sorriria ante o absurdo  
Dizendo: "a vida é recomeço"  
Que o salto insano nos torna maduros  

Heráclito ensina: "tudo é mudança"  
O rio que passa jamais é o mesmo  
Num ciclo eterno de insegurança  

Kierkegaard clama: "ousa saltar"  
Pois só na fé há libertação  
Que em cada fim há um novo lar  

E o vento canta que nada é tão forte  
Que o tempo em brisa não possa levar  
Se a vida insiste, renasce o horizonte  
E em cada fim, um novo olhar  

Assim, não temas o tempo adverso  
Pois fim é argila em torno obscuro  
Moldando auroras no universo

quinta-feira, 27 de março de 2025

Casca de Jatobá que Nada

Música: Casca de Jatobá que Nada
(Tema Gaúcho Campesino)

Verso 1:
Lá no sul, no campo, onde o vento é cortante,
Vivia o Everton, gaúcho, de olhar desafiante,
Mas com um medo danado, ninguém podia saber,
Do doutor e sua faca que ele não queria ver.

Refrão:
Ele só pensava na casca do jatobá,
Que ele dizia que era forte e ia salvar,
"Pra esse mal no corpo, o remédio é o certo,
Não vou no doutor, não vou me apertar."
Com a casca de jatobá ele vai se virar,
O gaúcho não é frouxo, não vai se entregar!

Verso 2:
"Mas o que é isso, Everton?", perguntava a comadre,
"Por que a casca do jatobá?" – ele dizia:
"Pra curar o que é ruim, doutora, nem pensar,
Me metendo naquilo lá, vou até me assustar!"

Refrão:
Ele só pensava na casca do jatobá,
Que ele dizia que era forte e ia salvar,
"Pra esse mal no corpo, o remédio é o certo,
Não vou no doutor, não vou me apertar."
Com a casca de jatobá ele vai se virar,
O gaúcho não é frouxo, não vai se entregar!

Ponte:
Fito natural, dos campos do pampa,
Nada de faca, nada de cloroformo,
O remédio é simples, sem necessidade de espelho,
A casca que é forte, com sabor de espólio velho!

Verso 3:
E o tempo foi passando, a coragem foi a frente,
Mas o medo ainda ficava, escondido e latente,
Ficou com a casca, a cura dele jurada,
E o doutor nunca soube, a história abafada.

Refrão:
Ele só pensava na casca do jatobá,
Que ele dizia que era forte e ia salvar,
"Pra esse mal no corpo, o remédio é o certo,
Não vou no doutor, não vou me apertar."
Com a casca de jatobá ele vai se virar,
O gaúcho não é frouxo, não vai se entregar!

Final:
E assim o Everton viveu, com fé e bravura,
No campo, sem cirurgia, com cura e ternura,
E quem questionava a razão de seu plano,
Viu que o gaúcho, macho, tem sempre um engano.

Homenagem ao Tio Jair Silveira

Homenagem ao Tio Jair Silveira

Lá no tempo de piá, que saudade que me vem,  
Das manhãs de campo aberto, sob olhar de um grande alguém.  
Era tempo de infância, de açude e de sanga,  
Onde a vida se aprendia entre o pasto e a arapuca manga.  

No galope dos cavalos, no respeito ao ovelheiro,  
O Pelé negro e sereno, nosso pingo companheiro.  
Era escola sem parede, onde a lida ensinava,  
O campeiro se fazia com o que a terra ofertava.  

Tio Jair, mestre antigo, de causos e risadas,  
Galpão cheio, mate quente, noites bem aproveitadas.  
Os anciãos bem diziam: "Piada melhor não há!"  
E ao final da narrativa, risada mansa a chancelar.  

No braseiro do costado, onde a carne bem assava,  
O segredo do assador, ele sempre me ensinava.  
Hoje, trago na memória e no fogo que sustento,  
A herança deste homem que foi mestre e fundamento.  

Cinquenta e três primaveras, floradas de um campo vasto,  
Filhos formados, família, coração firme e casto.  
Que na roda da existência, se repita este refrão,  
Comemorando a tua vida, fiel ao laço e ao galpão!  

Que o patrão velho siga te abençoando, tio Jair!

Caminho ao Cume

Caminho ao Cume, pelo irmão Cruz-altense Decimar
No peito arde a chama do saber  
que busca o alto além da ilusão  
Não basta crer é tempo de entender  
na fé que escuta e sente a razão  

Se Deus habita além do parecer  
no outro ecoa sua compaixão  
Quem abre os olhos pode compreender  
que a luz do Todo é pura união  

Na voz do vento há prece e há canção  
no olhar do sábio um templo a florescer  

Que a mente encontre em cada coração  
a ponte eterna entre o ser e o ver  

segunda-feira, 24 de março de 2025

O Verniz e as Trevas

O Verniz e as Trevas
A sociedade enverniza o que teme  
dourando o caos que se arrasta em brio  
mas sob a tinta a verdade geme  
clamando alívio rompendo o frio  

A ignorância em trono de sombra  
troveja altiva nega o clarão  
zomba do homem que ao solo assombra  
e esquece que asas brotam do chão  

Pois quem caiu se ergue em centelha  
renasce em voo despindo a dor  
trevas não prendem alma que espelha  
o sol nascente no próprio ardor  

Liberto o passo vibra a mudança  
pesa o silêncio no vão julgar  
curar-se é rastro de quem avança  
é luz que aprende a se iluminar  

O Caminho do Iluminado


Envolto em poeira, o cortejo avança  
na imensa planície a se desfazer  
montanhas nevadas repousam distantes  
no céu que convida a alma a viver  

O vento murmura segredos antigos  
no azul que se estende além do olhar  
o verde abundante entoa um chamado  
tudo é possível a quem despertar  

Nasceu o sábio um brilho em seu olhar  
um rei ou guia o mundo assim previa  
no lar dourado em meio à fantasia  
sentiu no peito um vago despertar  

Ao ver a dor quis seu destino achar  
deixou seu reino em busca da harmonia  
e sob a sombra em paz e em vigília  
soube o sofrer e o modo de o estancar  

Na noite escura a mente iluminada  
desfez as sombras viu-se então liberto  
compreendeu a senda revelada  

Pregou liberto alento ao mundo incerto  
e ao fim da vida em luz transfigurada  
se fez eterno além do vão deserto

Decimar da Silveira Biagini
Na Cruz Alta-RS, 24 de março de 2025

sábado, 22 de março de 2025

O Poeta Nu e o Verso Esquecido

O Poeta Nu e o Verso Esquecido

O poeta estava nu, sem métrica e sem rima
Diante da plateia, sem toga ou pantomima
Súbito gritou, em febril desatino:  
"Um poema! Um poema! Meu reino em Pasárgada eu assino!"  

Mas Pasárgada dormia em berço de brisa
Não havia cavalo, nem coroa precisa
Somente o vento, impassível e magro
Levava-lhe as sílabas para um destino vago

Eis que surge um arauto, com olhar enfastiado  
— Meu caro, teu verso foi ao mercado,  
Venderam-no junto a quinquilharias,  
Por um preço menor que sinas vazias. 

E então, como Hamlet sem calças na aurora
O poeta urrou: "Ó musa traidora!"  
Mas as Musas, rindo, jogaram-lhe um manto
Tecido com versos de um épico pranto.  

Assim ficou ele, entre o fado e a lenda
Nu de palavras, coberto de emenda
E se um dia encontrares sua rima tardia
Saibas que um rei trocou Pasárgada por poesia

Seja o Alimento

Seja o Alimento
Sinta a terra raiz que te ampara  
Sinta a brisa a te embalar  
Sinta alguém que te rega e prepara  
Como a prece que faz germinar  

Sinta os olhos do ancião que te estuda  
Como um sábio que vê além  
Sinta a força da vida que muda  
Sinta o ciclo que em tudo vem  

Shofar ressoa como um chamado divino  
Cítara vibra em notas sutis  
Piano ecoa um canto antigo  
Harmonia que nunca tem fim  

Sinta a chuva caindo em seu rosto  
Sinta o sol a te iluminar  
Sinta alguém te colhendo com gosto  
Com respeito a te consagrar  

Sinta as mãos que concedem licença  
Te ofertando com puro louvor  
Sinta o fogo que aquece a presença  
Transformando matéria em amor  

Sinta alguém que te serve em silêncio  
Enquanto ora em comunhão  
Sinta a mesa o sagrado alimento  
A vida em pura oração  

Shofar ecoa uma última nota  
Cítara e piano se dissolvem no ar  
O silêncio envolve a alma desperta  
No Todo enfim a repousar

A Musa e o Tempo

A Musa e o Tempo

Quarenta e quatro floradas  
Tua luz sempre encantada  
Musa estonteante e bela  
Feita em alma de aquarela  

Sabedoria milenar  
Teu olhar sabe guiar  
És a estrela mais brilhante  
Na jornada deslumbrante  

Grande mãe da princesinha
Que em teus braços se aninha  
Valentina logo cresce  
Mas teu amor é de Rainha 

És a Musa do Poeta  
Tua essência é rara e certa  
Vida é bela ao teu redor  
Porque és puro esplendor  

Decimar da Silveira Biagini
22 de março de 2025

O Nazareno, Filho do Carpinteiro

O Nazareno, Filho do Carpinteiro, pelo poeta Cruz-altense Decimar


**[INTRO]** *(Violão dedilhado ou piano suave, crescendo lentamente)

**[VERSO 1]** 
Dele é tudo o céu e a estrada 
nossa jornada e o próprio fim 
Fez-se cordeiro dócil afim 
mas sua voz foi forte e ousada 
Viu quem vestia a fé errada 
preso à aparência sem valor 
cegando o olhar ao próprio horror 
Fardos teciam duros frios 
postos em ombros tão vazios 
sem suportá-los com vigor
**[REFRÃO]** *(Melodia crescente, com coral ou segunda voz)
**Cristo é o brilho que rompe a escuridão** 
**Voz que liberta e aquece o coração** 
**Veio ao mundo e nos mostrou o amor** 
**Vida e verdade em seu puro esplendor** 

**[VERSO 2]** *(Mantém ritmo, adiciona leve percussão)
Disse a verdade mas com graça 
puro em ternura e retidão 
Viu nos humildes o irmão 
nos poderosos face escassa 
Fez-se um espelho que trespassa 
nossa mentira e contrassenso 
Quem pede paz mas é propenso 
à ira e ao julgo implacável 
é fariseu inflexionável 
cego no orgulho torpe denso 

**[REFRÃO]** *(Com mais intensidade, coral reforçando palavras-chave)
**Cristo é o brilho que rompe a escuridão** 
**Voz que liberta e aquece o coração** 
**Veio ao mundo e nos mostrou o amor** 
**Vida e verdade em seu puro esplendor** 

**[SOLO INSTRUMENTAL]** *(Violão com leve reverb + cordas suaves, tom reflexivo, duração de 8 compassos)

**[VERSO 3]** *(Tom mais emocional, com crescendo no final)
Cristo porém foi luz sincera 
vivo entre os homens doce e audaz 
Seus olhos viram mais que a paz 
viram a dor que nos impera 
Seus pés pisaram a cratera 
do sofrimento mais atroz 
mas sua essência e sua voz 
nunca cederam à vaidade 
sempre viveu pela verdade 
sempre amou mais que a própria voz 

**[REFRÃO - FINAL]** *(Repetição com variação melódica, mais emoção, encerrando com coro forte)
**Cristo é o brilho que rompe a escuridão** 
**Voz que liberta e aquece o coração** 
**Veio ao mundo e nos mostrou o amor** 
**Vida e verdade em seu puro esplendor** 
**Vida e verdade em seu puro esplendor** 

**[OUTRO]** *(Instrumental suave, voltando ao dedilhado inicial, finalizando com fade-out

sexta-feira, 21 de março de 2025

Caminho para Deus

Caminho para Deus, pelo irmão Cruz-altense Decimar
Em campo vasto, onde a fé habita
Caminha o sábio em luz constante
No verbo manso, em paz contrita
A alma aflora, amor radiante
No silêncio, o céu lhe visita  

A semente, no solo profundo
Espera o tempo com paciência
Não vê o fruto, mas sabe o mundo
Tece os fios da providência 
E o destino ao bem é fecundo

Em jornada do ser consciente
O rumo é traço de quem se entrega
Deus faz do forte, um ser presente
Em humildade, o espírito agrega  
A eterna paz ao ser silente 

Coração que ao céu se prostra manso
Reúne em si o todo, o uno
Faz do mistério, um novo remanso
No amor divino, encontra o rumo
Onde o verbo "Deus" é avanço

Seja feita, pois, Tua vontade  
Na fé, o homem renova o brilho
Deixa a dor e encontra a verdade
No verbo justo, o puro trilho 
Deus é paz, luz, e é caridade

Menos pedra e mais pão

Menos pedra e mais pão 
No limbo escuro a mente se debatia  
sem ver a estrada errante no vagar  
Por entre sombras ecoa a tirania  
da falsa luz que tenta nos guiar  
Eis que um brilho vem nos despertar  

O tempo urge a chama resplandece  
clama aos atentos que saibam escutar  
Não é na mente que a verdade cresce  
nem nos altares feitos para enganar  
O sol divino ensina a caminhar  

Cristo não busca a glória do erudito  
nem do que esconde o medo sob a lei  
Seu passo firme é simples e infinito  
em cada gesto humilde se revei  
Quem se despede do orgulho acha o Rei  

A ciência é útil mas se faz pequena  
quando se eleva além do próprio Eu  
Nada há no tempo ou na razão terrena  
que compreenda a face de um Céu  
Somente a alma conhece o apogeu  

Desperta agora ó ser que se envergonha
rasga os grilhões da falsa devoção  
A Luz te chama ao brilho do seu sonho  
sem medo e crença cega na ilusão  
O Pai te espera em pura ascensão  

Decimar da Silveira Biagini
21 de março de 2025

quinta-feira, 20 de março de 2025

José, o Justo

José, o Justo
José em fé seguiu seu trilho  
Guardião do Verbo e do Mistério  
Cuidou de Cristo em berço austério  
Com mãos firmes olhar de brilho  

Quarenta gerações passadas  
A profissão fez-se legado  
E em Nazaré sem tronco ou prado  
Carpinteiro erguia moradas  

Guardou os freios da Mula Santa  
Da fuga ao Egito em sombra e vento  
E ao Menino os deu num só momento  
Símbolo oculto em fé que encanta  

Na infância deu-lhe amor e auxílio  
No exílio foi seu braço sério  
José em fé seguiu seu trilho  
Guardião do Verbo e do Mistério  

Aos cento e onze em paz partiu  
Cercado em laço necessário  
E anjos luz do ministério  
O ergueram santo em paz e brilho  

Tomás em verbo o fez concílio  
No culto santo e necessário  
José em fé seguiu seu trilho  
Guardião do Verbo e do Mistério  

E o povo em voto sempre empírico  
No amor ao justo fez-se vário  
Ergueu-lhe um templo extraordinário  
Selou-lhe o nome em som magnífico  

Decimar da Silveira Biagini
Na Cruz Alta-RS, 19 de março de 2025

Discípulo e o Mestre Nazareno

Discípulo:
Mestre venho à luz da estrada  
trago angústia e desalento  
quero ouvir teu pensamento  
tua voz firme e inspirada  
Dize pois tua jornada  
que antevia o sofrimento  
Mestre:
Filho a estrada é inclemente  
mas segui sem hesitação  
sabia bem da traição  
do açoite cruel pungente  
Aceitei sereno e crente  
a prisão e a solidão  
Discípulo:
Que mistério assim se encerra  
neste tempo atravessado  
Quem penetra o imprevistado  
desafia a própria terra  
Mas quem sabe o que se encerra  
segue o passo já firmado  
Mestre:
A grandeza de um humano  
não se mede pelo aço  
mas no brilho do compasso  
quando abraça o próprio dano  
Só é forte o soberano  
que se assume em seu fracasso  
Discípulo:  
Hoje vejo quanta gente  
anda altiva e destemida  
mas se esconde dolorida  
com temor que a dor apresente  
Ser herói não é valente  
se da angústia faz partida  
Mestre:
Filho ouve este segredo  
só se cresce quando cai  
quem é grande e nunca vai  
reconhecer próprio medo  
cava a cova do degredo  
e no orgulho se distrai  
Discípulo:
Mestre agora eu entendo  
tua dor tua lição  
pois que Deus na imensidão  
na fraqueza está tecendo  
um amor que vai vencendo  
com ternura e compaixão  

Decimar da Silveira Biagini
Poema metafísico

Sepé Tiaraju

Sepé Tiaraju - Guardião das Terras do Sul
Lá pelos Sete Povos, num rincão bem escondido,  
Nasceu um piazito triste de olhar endurecido.  
Órfão duma guerra bruta, num massacre destemido,  
O fogo dos invasores queimou aldeia e caminho,  
Mas o piá pequenito foi salvo por um vizinho.  

O padre missioneiro, homem de fé e verdade,  
Tomou o gurizito com amor e caridade.  
Ensinou-lhe catecismo, ensinou-lhe humanidade,  
Mas também deu-lhe lições de sua própria liberdade.  
Com mãos hábeis talhava a madeira pura,  
Fazendo flautas que gemiam em lamentos da planura.  

Entre coxilhas e tambores, entre o mato e a capela,  
Aprendeu a velha arte da erva-mate na gamela.  
Conheceu os sons divinos do cravo e da taramela,  
E no canto guarani encontrou sua estrela bela.  
Era um índio e era um sábio, de um jeito respeitoso,  
A música lhe falava num dialeto misterioso.  

No alvorecer da semana ia ser bom artesão,  
Com couro fazia botas, entrelaçava o cordão.  
Cada fibra tinha alma, cada fio uma oração,  
Cada nó guardava história do tempo da criação.  
Entre o latim e a harpa, entre o canto e a lavoura,  
A cultura era raiz feito árvore que vigora.  

Cresceu forte como o cedro, ágil como um minuano,  
Sabia o rio e os segredos que não sabe o castelhano.  
O branco estuda milênios, mas não aprende o arcano  
Que a terra ensina ao vivente desde o dia soberano.  
Com as aves aprendeu voos, com os bichos valentia,  
E na mata encontrou rastros de sua velha energia.  

Mas um dia a paz desfez-se como o vento em ventania,  
O exército inimigo sem piedade destruía  
As Missões e os missioneiros que na fé sobreviviam,  
E o piá já feito homem resistiu com valentia.  
No estrondo dos arcabuzes, sobre os ecos da tormenta,  
Seu grito foi de coragem e sua alma foi de guerra.  

A vitória não se encontra onde a guerra se impõe,  
Sepé lutou como um raio, fez trincheira, foi leão.  
Defendeu com corpo e alma, mas sabia que, na terra,  
A luta é só passagem, pois a fé nunca encerra.  
Fez da Santa entalhada um sinal para os guerreiros,  
E espalhou cada pedaço como alerta aos companheiros.  

Então o céu se incendiou num tropel de assombro e brio,  
E um cavalo de fogo irrompeu feroz no sombrio.  
Na crina ardente, Sepé, na mirada, um trovão certeiro,  
Na lança, o eco dos tempos julgando o invasor traiçoeiro.  

Não bastou tombar em terra, nem o sangue manchar o chão,  
Sua alma fez-se tormenta, cavaleiro em assunção.  
Nos campos do último embate, onde o Guarani chorou,  
Sepé voltou em fogo, o açoite que o opressor temeu.  

Corre à noite na coxilha sombra e luz, furor e prece,  
Recolhendo os guerreiros que a guerra ao pó não esquece.  
E quem traiu sua gente sente o galope rugir,  
Pois a lança de Sepé nunca há de se extinguir.

terça-feira, 18 de março de 2025

Rotina do Poeta

Penso a vida sonho o instante  
Escrevo as dores sigo adiante  
Imerso em versos fundo o brado  
Atrevo a rima ao inesperado  

Vento sussurra instiga o enredo  
Sentidos dançam moldam o medo  
Invento mundos traço o ensejo  
Motivos pulsam no meu desejo  

Liberdade chama acesa  
No que é belo faz seu ninho  
Canta o verso passarinho  
Na amplidão da natureza  

Pela estrada da beleza  
Voa a rima sem fronteira  
Sede pura verdadeira  
De um poeta insaciável  
Que no verbo inabalável  
Transcende à luz primeira  

Publico a alma risco o traço  
Remonto o tempo em vão espaço  
Pudico oculto mas não me iludo  
Apronto o canto renasço mudo  

Não se cala a voz que sente  
Nem se dobra a consciência  
Cósmica em fraternidade  
É o pulso da existência  
Tece o sonho e sem demora  
É a eternidade agora  

Se o verso é livre mas frio e vão  
No amor poético faz-se oração  
E só no encanto que o toque encerra  
O verbo alado floresce em terra 

Humanidade - Poesia Consciencial Viva

Humanidade - Poesia Consciencial Viva
A seiva oculta em cedros resplandece  
É luz da Criação em doce entranha  
Quem nela meditar alma engrandece  
E as sombras da razão por fim desbanha  

O rosto da Verdade é o Líbano altivo  
Que ergue-se além do homem e do efêmero  
Na arte que refina o instinto vivo  
Tornando o dom do belo um bem supremo  

A mente há de curvar-se em reverência  
Deixando vãos delírios e quimeras  
Purgando a ilusão da inconsistência  

Pois Deus não se revela em frias eras  
Mas na harmonia viva da existência  
Liberta em experiências belas e sinceras

Decimar da Silveira Biagini
19 de março de 2025

segunda-feira, 17 de março de 2025

Jesus tem teu Zap

Soneto da Conexão Divina - Jesus tem teu Zap


No fluxo imaterial da consciência  
as ondas do amor tocam a verdade  
rompendo o tempo a densa realidade  
num salto além da vã ciência  

Se a luz do pensamento é tão veloz  
que abraça o Infinito num segundo  
quem pode duvidar que lá no fundo  
a voz de Deus ressoe em nossa voz  

Jesus tem teu sinal no etéreo plano  
responde sem delay sem hesitação  
num zap transcendendo o meridiano  

Na fenda eterna a mente em vibração  
se funde ao Verbo Lúcido e Arcano  
num campo além da humana dimensão

Decimar da Silveira Biagini
Na Cruz Alta-RS, 18 de março de 2025

Pajada da Sarça Ardente

A Pajada da Sarça Ardente*
Deus:  
Escuta aqui meu filho
que a hora agora é chegada
A voz do céu te emboscada 
pra despertar-te daqui  
No campo seco eu te vi
mas tua estampa altaneira
merece outra campereada 
lá onde a luz verdadeira
clareia a estrada obreira
da lida que está apontada

Peão:
Mas Patrão sou tão pequeno  
na lide sou só peão  
não mando nem mando não  
sou rio de pouco sereno  
Se é pra ser vosso terreno  
sou solo seco e sem vida  
um pasto de pouca lida  
de pouco pasto e sem gado  
meu sonho foi abandonado  
qual boi sem tropa perdida  

Deus:  
Mas não se ache um varzedo  
te forjei pra nova estrada  
tua alma foi arada  
no tempo certo te enredo  
Sou Eu que assino o segredo  
de toda a gesta campeira  
quem espera a tarde inteira  
pra ver a lida acabar  
não vê que é pra semear  
que a terra fica altaneira  

Peão:  
E que tropa vou guiar  
se nem rumo sei direito  
sou homem rude imperfeito  
de palavra pra tropeçar  
Se um povo tem de esperar  
quem lhe vá ser esperança  
sou só um peão sem lança  
meu braço é fraco e inerte  
será que o céu me acerte  
pra tocar essa fiança  

Deus:  
Não te quero pronto e forte  
te quero justo e inteiro  
humilde qual missioneiro  
pois sou Eu que escrevo a sorte  
Dei rumo ao sol dei ao norte  
o vento que empurra estrada  
dou lida a quem anda arada  
dou fé a quem me escutar  
então para de duvidar  
que a tua missão tá lançada  

Peão:  
Se vosso lenço me cobre  
vou aonde o tempo me leve  
pois a palavra que escreve  
é mais rica que ouro nobre  
Se me faço peão pobre  
a fé me faz capataz  
se Vós mandais que eu vá em paz  
eu laço a coragem Patrão  
e parto pois meu coração  
ouviu a ordem que me traz 

Decimar da Silveira Biagini
15 de março de 2025 

*Deus ainda não terminou tua obra, enquanto houver terra pra semear e lida pra cumprir a estância da vida espera pelo teu braço forte e teu sonho vivo!

Veredicto Eterno

Veredicto Eterno

Ouvi ó tu que buscas a verdade  
que em sombras duvidas teu próprio valor  
Se Deus que rege a imensidade  
declara-te filho e bendito em amor  
que importam desprezos ou vã falsidade  

Se o mundo repele e te nega o ardor  
não pesam insultos na eternidade  
pois Cristo é o justo que ergue o penhor  
o véu se rasgou findou-se o terror  

O orgulho semeia as ruínas da história  
destrona os humildes promove a ilusão  
Mas nada do orgulho persiste na glória  
nem leva ao descanso da justificação  
Na cruz está o fim da vã oratória  

Teu fardo é findo não há acusação  
Que vale a vaidade se tudo é memória  
Humilde é aquele que aceita a missão  
e sabe que é filho da eterna unção  

Decimar da Silveira Biagini
17 de março de 2025

quinta-feira, 13 de março de 2025

Pajada de Gratidão à Nossa Senhora de Fátima- autobiografia metafísica


Pajada de Gratidão à Nossa Senhora de Fátima, autobiografia metafísica de missões na mesma região: 

I  
Madre Santa escuta a voz  
De um filho em terra bendita  
Que já foi padre e foi herói  
Na fé firme e infinita  
Fui Sepp no sul missioneiro  
Com Deus no peito guerreiro  
Ergui capela e cantei  
Na Cruz que hoje é meu berço  
Pelo Cristo fiz meu verso  
E ao solo a paz semeei  

II  
Mas veio a guerra o estrondo  
A pátria em fogo e tormento  
E no fragor mais hediondo  
Troquei a cruz por um tento  
Fui major na artilharia  
Por justiça combateria  
Pelos fracos empunhei aço  
Mas tombado em terra estranha  
Paguei meu quinhão de sanha  
E dormi no frio abraço  

III  
Hoje renasço sem glória  
Sem títulos pompas brasões  
Mas trago em mim na memória  
Duas passadas lições  
Na justiça sou doutor  
E se me falta o louvor  
Tenho a causa dos pequenos  
Sou dos mestres defensor  
E em cada pleito ou labor  
Vejo em vós Madre um aceno  

IV  
No templo da caridade  
Cubro a dor de um lenço brando  
Como o Cristo em humildade  
Pelas mãos vou aliviando  
Passista em casa de luz  
Com a prece levo a cruz  
Dos que sofrem desvalidos  
Mãe bendita vossa chama  
É o que aquece quem reclama  
E dá fé aos esquecidos  

V  
Se minh’alma já vagara  
Em batalhas e em perdão  
Hoje é lírio que declara  
Só louvor ao vosso chão  
No campo em que fui semente  
Minha poesia é nascente  
De uma fonte a transbordar  
E se o verso é minha estrada  
Mãe divina e venerada  
É por vós que sei rimar  

VI  
Se a coxilha me acolheu  
Desde a infância já passada  
Foi o céu que me escolheu  
Pra cumprir nova jornada  
Perto jaz meu corpo antigo  
No Silveira um velho abrigo  
De um soldado já esquecido  
Mas minh’alma ah esta sim  
Volta ao berço onde por fim  
Tem um lar reconhecido  

VII  
Eis-me agora Mãe Rainha  
No alto dessa elevação  
Com lírios brancos sozinha  
Vosso olhar pede oração  
De joelhos sem espadas  
Sem fardas nem alvoradas  
Só com versos na mão posta  
Canto à Virgem de esplendor  
Pois a vida é um louvor  
E a Cruz Alta é minha roça  

Decimar da Silveira Biagini
13 de março de 2025

quarta-feira, 12 de março de 2025

O Além na Visão Tibetana




Oh Bardo Thödol, voz da transição  
A alma vagueia após seu fenecer  
Se teme as sombras, cai na escuridão  
Se aceita a senda, aprende a renascer  

Os deuses surgem plenos de esplendor  
Mas quem vacila os vê como um terror  
Das sombras nasce o véu do amargor
Quem não se encontra volta à dor maior  

Se o ser desperta e a luz reconhecer  
Transcende enfim à pura morada  
Mas se o desejo o faz permanecer  

Retorna ao mundo em nova caminhada  
E segue o ciclo atado ao mesmo ser  
Ou ao tormento de uma luz velada

Decimar da Silveira Biagini

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