DECIMAR BIAGINI

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Advogado e Poeta Cruzaltense

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quinta-feira, 20 de março de 2025

Sepé Tiaraju

Sepé Tiaraju - Guardião das Terras do Sul
Lá pelos Sete Povos, num rincão bem escondido,  
Nasceu um piazito triste de olhar endurecido.  
Órfão duma guerra bruta, num massacre destemido,  
O fogo dos invasores queimou aldeia e caminho,  
Mas o piá pequenito foi salvo por um vizinho.  

O padre missioneiro, homem de fé e verdade,  
Tomou o gurizito com amor e caridade.  
Ensinou-lhe catecismo, ensinou-lhe humanidade,  
Mas também deu-lhe lições de sua própria liberdade.  
Com mãos hábeis talhava a madeira pura,  
Fazendo flautas que gemiam em lamentos da planura.  

Entre coxilhas e tambores, entre o mato e a capela,  
Aprendeu a velha arte da erva-mate na gamela.  
Conheceu os sons divinos do cravo e da taramela,  
E no canto guarani encontrou sua estrela bela.  
Era um índio e era um sábio, de um jeito respeitoso,  
A música lhe falava num dialeto misterioso.  

No alvorecer da semana ia ser bom artesão,  
Com couro fazia botas, entrelaçava o cordão.  
Cada fibra tinha alma, cada fio uma oração,  
Cada nó guardava história do tempo da criação.  
Entre o latim e a harpa, entre o canto e a lavoura,  
A cultura era raiz feito árvore que vigora.  

Cresceu forte como o cedro, ágil como um minuano,  
Sabia o rio e os segredos que não sabe o castelhano.  
O branco estuda milênios, mas não aprende o arcano  
Que a terra ensina ao vivente desde o dia soberano.  
Com as aves aprendeu voos, com os bichos valentia,  
E na mata encontrou rastros de sua velha energia.  

Mas um dia a paz desfez-se como o vento em ventania,  
O exército inimigo sem piedade destruía  
As Missões e os missioneiros que na fé sobreviviam,  
E o piá já feito homem resistiu com valentia.  
No estrondo dos arcabuzes, sobre os ecos da tormenta,  
Seu grito foi de coragem e sua alma foi de guerra.  

A vitória não se encontra onde a guerra se impõe,  
Sepé lutou como um raio, fez trincheira, foi leão.  
Defendeu com corpo e alma, mas sabia que, na terra,  
A luta é só passagem, pois a fé nunca encerra.  
Fez da Santa entalhada um sinal para os guerreiros,  
E espalhou cada pedaço como alerta aos companheiros.  

Então o céu se incendiou num tropel de assombro e brio,  
E um cavalo de fogo irrompeu feroz no sombrio.  
Na crina ardente, Sepé, na mirada, um trovão certeiro,  
Na lança, o eco dos tempos julgando o invasor traiçoeiro.  

Não bastou tombar em terra, nem o sangue manchar o chão,  
Sua alma fez-se tormenta, cavaleiro em assunção.  
Nos campos do último embate, onde o Guarani chorou,  
Sepé voltou em fogo, o açoite que o opressor temeu.  

Corre à noite na coxilha sombra e luz, furor e prece,  
Recolhendo os guerreiros que a guerra ao pó não esquece.  
E quem traiu sua gente sente o galope rugir,  
Pois a lança de Sepé nunca há de se extinguir.

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