O corpo do príncipe era outra música
feita de pulsações fora do tempo
Quando andava, a terra aprendia
a sinfonia do firmamento
Seus olhos não viam com íris
viam com memórias não vividas
O som que vinha de seus gestos
era o silêncio das feridas
Cada pisada sua na trilha
deixava um acorde enterrado
As pedras cantavam baixinho
o destino jamais narrado
Não buscava coroas ou tronos
mas a partitura do invisível
Sabia que a dor bem amada
é a flauta do impossível
Os ventos dobravam-se ante ele
como folhas num velho livro
E o sol, no seu alto silêncio
parava só pra ouvir o alívio
A roupa era apenas poeira
o cetro um cajado quebrado
Mas o compasso do seu sangue
regia o mundo calado
Quando dançou entre as folhas
as árvores quase falaram
E a morte que o seguia rindo
parou e o som a calaram
Havia um templo em sua carne
com portas sempre abertas
Seus passos ativavam preces
esquecidas em eras incertas
Nenhum nome ele aceitava
pois nome é prisão na linguagem
Era o eco de muitas origens
vestindo uma nova roupagem
Em vez de palavra usava
o ritmo como ensinamento
Cada músculo um sutra
escrito por movimento
E ao final quando sumiu na névoa
não deixou saudade nem pena
Apenas a trilha sonora
que ainda vibra na arena
O corpo do príncipe
se transforma em renúncia
o que era no princípio
agora é luz que silencia
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