No dia em que as vitrines ganham cor
E corações penduram-se em vitrales
O poeta não desce ao corredor
Nem pisa os tablados dos mortais
Ele ascende em silêncio pelas brumas
Por trilhas que só a lembrança abre
Levando nos olhos relâmpagos e espumas
E no peito um relicário sem chave
Não há ceia nem lume para o povo
Não há rastro de rosas nem promessa
A Musa não se serve como um ovo
Posto à mesa da pressa que tropeça
Ela é segredo em voo que não volta
É o risco que não cabe num papel
É vertigem de alma que se solta
Quando a carne se esquece do bordel
O poeta então guarda em si a alvorada
Como quem sabe a noite vem em vão
Pois sua estrela não dorme em calçada
E seu beijo não cabe em multidão
No topo onde só o silêncio habita
Onde nem os abutres ousam planar
Ele e a Musa traçam rota bendita
Num idioma que é só verbo de amar
Decimar da Silveira Biagini
Na Cruz Alta-RS, aos 12 de junho de 2025
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