Nas mãos repousa o fogo original
Chakras que dançam luz no gesto puro
Tocando o mundo em paz ou em augural
Presságio do sagrado e do maduro
No centro há sol no toque o atemporal
Jesus tocava a dor tornava escuro
em claridade viva e fraternal
Nas mãos o céu no sangue um chão seguro
e cada dedo um fio transcendental
Das mãos do amor ao véu do conjugal
há tremores que o tempo torna muro
e a mão da mãe calor mais que vital
guarda em si o perfume mais seguro
Mas vem a mão do fim suave e igual
Lembranças vêm do toque que consola
Dos dedos que acenaram o infinito
Da mão que acalmou febre e se desola
Quando não encontra mais o peito aflito
Som do tempo emudece e se enrola
Nas mãos da mãe há um amor bendito
Feito oração bordada em velha estola
Cuidando o pão o sono o chão proscrito
O pranto e a febre e a dor que não se isola
Mas cada mão se afasta sem delito
Num gesto de adeus que o céu recolha
No fim só resta um toque tão restrito
Que faz do corpo a bruma que se espolha
Deus nos toma as mãos sem um conflito
Silêncio veste as mãos como um manto
Espírito se eleva enfim liberto
Som do tempo cala seu encanto
Enquanto o céu se abre ao mais desperto
Sopro antigo embala o último canto
Coração responde puro e certo
No vão do adeus há paz embora pranto
Passo de alma ao invisível perto
Luz não grita brilha em todo canto
Sombra cede ao sol que vem por perto
Carne dorme mas não o quebranto
Pois tudo é retorno ao que é mais correto
Deus toma as mãos e o tempo nesse instante
é só silêncio e voo deslumbrante
Decimar da Silveira Biagini
24 de abril de 2025
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