Despertar do shakuhachi
Dom Justo Ukon Takayama de Manila (1552-1615) Samurai Kirishitan, Mártir
Autobiografia espiritual em haikais guilherminos, pelo poeta Cruz-altense Decimar
Nasci entre lanças
meu berço foi bruma e dança
na guerra das tranças
Meu pai ergueu cruz
nas águas do chá sem luz
soprando o Jesus
Quando a lâmina
se fez oração na cama
vi alma em flama
Cavaleiro azul
em armadura sem sul
renasci no pul
Osaka era minha
com castelo em fina linha
e altar na esquina
Mas Nobunaga
vinha em fogo sobre a saga
da luz que divaga
Templos derrubou
por querer que a fé calou
mas Cristo ficou
Não curvei joelho
vi monges no último espelho
com canto vermelho
Não fui contra rei
só guardei o que abracei
e nunca dobrei
Ofereceram
o trono que outros quiseram
mas não me renderam
Renunciei tudo
cavaleiro no escuro
com Cristo no escudo
Em fuga sem chão
deixei terras e perdão
levei só o pão
O Japão ardia
e minha alma se esvazia
no vento do dia
Manila era flor
colhida no exauridor
do meu próprio ardor
Sem espada ou ouro
fui templo num solo choro
com rosto de couro
Ali me encantei
morri como nunca amei
no leito onde rezei
Meu corpo partiu
mas meu nome nunca viu
o fim do perfil
Quatrocentos sóis
depois que deixei os bois
soaram os sinos dois
Francisco chamou
do trono onde Pedro andou
e o Céu confirmou
Beato me fez
com os olhos da altivez
e a paz de altivez
A honra maior
é perder o que é menor
pra ser sem temor
Castelos se vão
mas quem crê vira clarão
de ressurreição
O Japão me ouve
no bambu que sopra e move
meu canto que prove
Sou brisa no chão
de um altar sem direção
com Cristo na mão
Sou samurai da
espada que não fere
porém que salva
Nenhum comentário:
Postar um comentário