A especialidade da Fazenda Santo Antônio
Tive um sonho tão real
Que bom que realidade fosse
Um doce que não era tão doce
Coloração de ovo colonial
Aquele fogao à lenha
Chapa fina, herdado da bisavó
Panela de barro vermelha
Tão velho que parecia um braseiro só
Os gatos lambendo os pratos
Fruto da preguiça do escalado na louça
O rejeito num cano furado com poça
Que servia de lavagem aos patos
Aquela mesa com gaveta
Utilizada pela vó em tempos de crise
Vapt vupt a comida já se ajeita
Caso chegue alguém que não avise
Mas voltemos à primeira lembrança
Receita de olho atento e repetição
Cada vez que comia, voltava a ser criança
E representava um alento ao coração
A energia da gurizada, roubando milho
Jogando bola campo afora
Pulando em potro sem encilha
São reminiscências "lá de fora"
Quem é gaucho sabe o que quer dizer
Quando fulano ou ciclano foi "pra fora"
E sente alegria em lembrar e reviver
Cada vez que fez um segundo virar hora
Sim, tudo é mais lento na fazenda
Temos tempo para lida e também arte
E é lá que um homem simples vira lenda
Como as estórias do Pedro Malazarte
Para quem desde a primeira estrofe sabia
A dedução certeira paira na ambrosia
Trata-se da minha matriarca doceira
Que herdou da bisa Angelina a boa maneira
De deixar na roça a criançada quieta e faceira
E ao final do dia, causos do seu Pires
Caseiro que pitava ao redor do fogo de chão
Mentia e assustava os medrosos de alhures
E enquanto a juventude perdia a atenção
Trocava os medos pela pesca em açudes
Pescava traíra e não tinha qualquer ambição
Talvez aí estivesse a verdadeira amizade
Ninguém pensava na citadina competição
E quando se pensa num fim de tarde
Assim como o sorriso dos velhos amigos
Todas as imagens, estão tatuadas no coração
Decimar Biagini
30 de agosto de 2018
Lembranças do Urupu
Capitania do Saber, memórias da biblioteca
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Outro dia, no silêncio digital de um PDF aberto na tela fria do meu
celular, me bateu uma saudade funda, quase doída, da biblioteca da minha
adolescência —...
Há um dia
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