As tantas folhas que não escrevi
Não é culpa do leitor este pranto
E sim da minha falta de criatividade
Como quem deixa o sapato num canto
E abdica de trilhar a busca da verdade
Por conta do fardo do amor e seu ledo encanto
O poeta já perdeu a credulidade na outra metade
No entanto, não é culpa do leitor minha felicidade
Como quem segue cego o caminho do nirvana
E com os amplos olhos da luz do coração, na flor da idade
Nem serenata, nem alfarrábios, só a musa me chama
É como a rosa única, o anjo místico, o amor de verdade
Como pode um poeta em verve, sair tão rápido da lama?
Vida de poeta é uma freqüencia que beira a bipolaridade
Sim, as tantas folhas que não escrevi foram sentidas por quem ama!
Decimar Biagini
ÂNIMO EXALTADO
Ele acordou
Foi urinar
Então retornou
Voltou a urinar
Pigarreou
Seguiu a ninar
Levantou antes do galo
Tocou as trinta badaladas
No cume de sua igreja serrana
Voltou pensando, mais uma mijada
Tão enferrujado quanto aquele badalo
Tornou a deitar em sua cama
Queixou-se a Deus por sua sina
Da razão de morrer sozinho e velho
Nenhum sinal, nem mesmo uma luz
Pegou então seu alfarrábio vermelho
E começou a relatar sobre sua pesada cruz
Torna a levantar, vai ao banheiro
Veste-se e vai ao altar, falar mal do dinheiro
Das furnicações da carne e do álcool
Depois ergue a óstia e o cálice de vinho
Como um raio, busca um ânimo exaltado
Fala da carne e do sangue do Salvador
Depois retorna à sacristia, deita em seu ninho
E lá conta com alegria, o dízimo ofertado ao Criador
Decimar Biagini
Capitania do Saber, memórias da biblioteca
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Outro dia, no silêncio digital de um PDF aberto na tela fria do meu
celular, me bateu uma saudade funda, quase doída, da biblioteca da minha
adolescência —...
Há um dia
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