Entre as macegas
o guri buscava norte
Pires fogo e mate
O velho limpava
com calma o couro da vida
guri escuta o chão
Cruz Alta ao longe
na bruma das coxilhas
o tempo cochila
Era açoriano
o sangue do moço inquieto
bailado no lombo
Causo não é só fala
é quando o tempo ensina
sem pressa ou cartaz
Pires com olhar
de jesuíta guarani
benzeu o porvir
Não sirvo patrão
sirvo a mim meu sentimento
liberdade é peão
Silêncio no galpão
cada brasa era palavra
que não se dizia
O menino ouviu
a coragem do tropeiro
sê tu sem agrado
Dos ancestrais veio
mais que terra ou cercania
a alma do campo
Pires partiu leve
deixando no moço um dom
ser lida do vento
Pires cochichava
com as galinhas do pátio
era amor que fala
A penacha ia
com ele dormir no baio
até ser trocada
Um fardo de álcool
tirou-lhe a companheira
pena por bebida
Guri viu nos olhos
do velho um breve remorso
com gosto de milho
Plantava feijão
e ensinava ao gurizote
colhe-se o que é
Feijão preto vai
no escuro da esperança
nasce igual o pé
Tinha dois cães seus
um cruzado com graxaim
chamado Respeito
O outro era ovelheiro
misturado em céu e cio
se chamava Sentinela
Esses dois me sabem
dizia entre mate e brasa
mais que muito douto
Falava com o chão
com vento e com formigueiro
como a um compadre
Nenhum comentário:
Postar um comentário