DECIMAR BIAGINI

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Advogado e Poeta Cruzaltense

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sábado, 28 de junho de 2025

Das Tropas de Muares, das Coxilhas e das Pradarias

Cancioneiro ao bisavô Dorival Paz da Silveira
Tropeiro do Urupu, Cruz Alta-RS
Das Tropas de Muares, das Coxilhas e das Pradarias

Dos Campos de Cruz Alta parti
No Urupu deixei saudade,
Com minha tropa e esperança
Buscando a sorte e amizade
Por pradarias sem fim
No rumo da liberdade.

A coxilha se estendia,
Ventos bailavam no chão,
Santa Maria me espera,
Com pasto e chimarrão,
Na estância do Vacacaí,
Me deram bom galpão.

Don Manoel Carneiro, o forte,
Lá do Pau Fincado é patrão,
Campos vastos, gado e fama,
Tradição de geração,
Deixei lá meu agradeço,
Segui na minha missão.

No Batovi cruzei estrada,
Em São Gabriel fui pousar,
Na fazenda do Pavão,
Bons tropeiros a encontrar,
Churrasco, milho e farinha,
Mate amargo a se passar.

Em terras do Alegrete,
Revi o tio-avô Dom José,
Da linhagem dos Martins,
Homem justo, muita fé,
Nos campos do Jarau largo,
Ali o boi não tem pé.

Cruzando a Fronteira Sul,
Uruguaiana reluzia,
Na Estância São Sebastião,
Francisco Pedro recebia,
Assado, charque e capim,
A tropa se aliviava o dia.

Nos pagos de Paso de los Libres,
Santa Fé me recebeu,
Nas pradarias argentinas,
O rio Corrientes cresceu,
O gado pastava solto,
No mate o tempo esqueceu.

Em Corrientes comprei muares,
Firmes, de casco e valor,
Na fazenda de Don Ramiro,
Velho criador e senhor,
Dormi ao lado da tropa,
Cuidando com muito ardor.

No Uruguai, terra de campo,
Em Tacuarembó me vi,
As planícies são sem fim,
Os ventos cantam ali,
E as carnes de cordeiro,
No fogo a se consumir.

Na costa do Santa Maria,
Voltei ao Rio Grande a passar,
Pelas estâncias da Silveira,
Parentes a me saudar,
A pampa me reconhece,
Sou filho deste lugar.

A vereda das Missões segui,
São Borja me fez chegar,
Ali no rancho de Santos,
Descanso pude tomar,
E as histórias dos índios,
Fiquei a escutar.

Por Cruz Alta de novo passei,
Pelas bandas do Cacequi,
Lembrei do velho Laureano,
Campos vastos, boi e capim,
Mas a tropa me chamava,
Sorocaba é o meu fim.

Pelos Campos de Guarapuava,
Estrada das Missões segui,
Os tropeiros do passado,
Lá deixaram o piquete e o ti,
E a erva mate crescia,
Verde como eu nunca vi.

São Paulo enfim me acolheu,
Sorocaba, a feira vi,
As mulas logo vendidas,
O bom negócio aqui,
E volto a sonhar com o Sul,
Minha Cruz Alta e o Urupu ali.

Ao Urupu retornei ao chão,
Na fazenda Santo Antônio,
Sesmaria em fragmentação,
Tropeirismo, herança e dom,
Ali descansei meu corpo,
Ali o tempo era bom.

Debaixo dos abacateiros,
Na cancha de bocha joguei,
Os filhos no colo alegre,
O jogo de osso ensinei,
Enquanto ovelheiros corriam,
Mate do meu carijo sorvi.

Dorotéia, minha prenda,
Na varanda me esperou,
Com o chimarrão quente e forte,
O olhar que me acalmou,
E o cordeiro assando ao fogo,
O rancho inteiro perfumou.

É dali que reponho as forças,
Pro rumo da tropeada,
Mas o coração sempre fica,
Na querência tão amada,
Urupu, família me espera,
Ancestralidade enraizada.

Decimar da Silveira Biagini
Poema metafísico
Na Cruz Alta-RS, 28 de junho de 2025

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