Não entendia o que Raul dizia antigamente
Sobre ver a vida passar
Sentado, com a boca cheia dentes
Esperando a morte chegar
Era tudo verdade
Vista de um espelho
Já com certa idade
Já não me assemelho
Nem mesmo pela metade
Com o guri de outrora
Mas não deixarei chegar minha hora
A barriga segura as calças
As calças revelam as canelas
A camisa não prende as alças
E os prédios tapam as janelas
Saudade do campinho
Dos botecos sem arruaceiros
De quando tomava lanchinho
Sentado ao pé dos salgueiros
Os lanches já não me saciam
E a expectativa de vida parece murchar
Algumas tentações me desviam
Enquanto desaprendo a caminhar
Chegada a hora de virar a bússola
Passado dos trinta e sedentário
Como dizia a professora Úrsula
Só piora depois do berçário
Hoje levei o Arthur na escolinha
E vi aquelas lágrimas de quem teme o desconhecido
Não importa quanto a vida te ensina
Confortar alguém assim, e tornar-se enternecido
É esquecer da própria existencial sina
E contentar-se com a genética estendida
Mas custava eu voltar para a academia?
Decimar Biagini
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