DECIMAR BIAGINI

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Advogado e Poeta Cruzaltense

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quarta-feira, 18 de junho de 2025

Encontro com Sócrates

Encontro com Sócrates
No limiar do sonho
Na praça

velada em névoa

vi Sócrates — como em estátua viva — sentado

Os olhos, perdidos no centro do invisível, varavam-me com silêncio

Como se o tempo ali fosse artifício, e a verdade um sopro antigo que em mim retornava

 

Vestia apenas uma túnica rude, cinzenta, de linho gasto pelo pensamento

Os pés descalços firmavam-se na pedra com a serenidade de quem nada teme

As mãos repousavam abertas sobre os joelhos, acolhendo o invisível com gentileza

E sua cabeça, levemente pendida, parecia escutar um mundo que ninguém mais ouvia

Cada gesto era uma pergunta suspensa

 

“Vens de longe” — disse

sem mover os lábios

“O longe é em ti mesmo”

“e o Mesmo é o que nunca se aparta”

“a unidade que em tudo se repete”

“Fala — se sabes quem és. Ou cala — se ainda confundes tua imagem com teu ser.”

 

No espelho

da pergunta

vi-me de costas

Por que fujo de mim, discípulo das sombras?

Meu ser não é o que lembro — mas o que me pergunta desde antes da lembrança

 

A alma,

por natureza,

anseia por ordem:

é feita da mesma substância que as ideias —

claras, eternas, indivisíveis — como o número que em mim pulsa sem cessar

 

“Sócrates — e se eu morrer?”

“Já morreste —”

“quando aceitaste viver na ilusão.”

“Mas ressuscitas, toda vez que perguntas —”

“como se fosse a primeira vez.”

 

A verdade

não é sabida

é relembrada:

és uma música esquecida de si mesma

que retorna, nota por nota, ao silêncio que a ensinou a cantar

 

Falava-me, sobretudo, de um mundo de novidades e divertimentos

que eu iria encontrar nas inúmeras moradas do Criador

 

Decimar da Silveira Biagini

Em um sonho sesdobrado

Na Cruz Alta-RS, 18 de junho de 2025

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