Água cai,
cobre o velho.
Bigode de espera, estranho espelho.
Corcunda afunda sem apelo,
me entrega um céu,
se vai.
Um pacote de valores
me cai sem eu pedir,
partilho com meus amores,
três almas a repartir:
o rico de bons ardores,
o culto a se expandir.
Chuva sobre mim,
parto os bens como um clarim,
a alma diz: é fim.
Rosto em pranto,
mãe desvela:
A dor da avó que se cancela,
perde o nome, a luz, a estrela,
mas é encanto,
é vela.
Diz que a vó já melhora,
mas voltou a esquecer...
precisará nova aurora
pra memória renascer.
Sou neto, mas nessa hora,
sou quem aprende a entender.
Lágrima escorre
num luto que me socorre,
mas nada se morre.
Goteira,
pinga o teto.
A vida pede um projeto.
Eu movo tudo, verso incompleto.
A poesia espera.
Sou neto.
Saudoso da fazenda do avô
criei memórias por todo canto,
gente boa, gente à toa,
gente molhada de pranto.
Mas a chuva já passou
e é tempo de novo encanto.
Recuo o sofá,
cada pingo me ensinará
o que o lar será.
Finda a lição,
digo a eles:
Cuidar é nobre entre os papéis.
Querem escrever,
escrevam com empolgação
Comecem e passem a crer
A imortalidade é dimensão
Que cada um vigie seus painéis
Crie bem estar a quem ler,
com o coração,
sem véus.
Só poe hoje,
gratidao!
Decimar da Silveira Biagini
Na Cruz Alta-RS, aos 22 de julho de 2025
Após grata surpresa de consagração como autor homenageado.
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