DECIMAR BIAGINI

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Advogado e Poeta Cruzaltense

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sábado, 7 de junho de 2025

Genealogia de fazendas e tropeirismo


Consciência Açoriana, pelo poeta Decimar aos seus ancestrais tropeiros da Silveira 

Vento velho sopra novo
mas é o mesmo céu que cala
e revela outro caminho
galpão vazio canta
chão de barro berço e morte
um clarão repete a voz
não é a fé que envelhece
é o medo que empalha os santos
mas a alma sopra sempre
sobre o açude a garça pousa
igual silêncio nova fome
recomeço sem espanto

palavra é gado que pasta
solta nos campos do peito
ao som do sino do tempo
a estância da dúvida é branda
o pensar relincha livre
no potreiro das ideias
vaqueiro antigo rezava
santo tomás clareia os cerros
e a luz vinha pelo lombo
filósofo campeiro
com chapéu de nuvem clara
busca deus entre as palmeiras

chove em mim um pensamento
tropeiro da eternidade
em estrada de argila e alma
pensar é andar no barro
escorregar no mistério
e rir do próprio tropeço
o mal só sei do sereno
que encharca o lenço da alma
quando esquece de rezar
não há final nem cerca
só picada entre as sarjetas
de um espírito cansado

somos todos de um assombro
dos matos e das estrelas
das pegadas e dos prantos
cada geração é um potro
que pergunta ao velho pasto
se ainda há grama de fé
meu pai dizia baixinho
o mundo é uma casa velha
com deus morando na cumeeira
não tenho resposta pronta
mas meu silêncio é antigo
feito ferrugem de arreio

a lenha estala no tempo
como ideia em brasas fundas
dessas que não se apagam
no galpão a luz não mente
cada sombra é um conceito
escrevendo-se no chão
velhas respostas não morrem
esperam nova garganta
pra cantar outra verdade
pensar é surrar o couro
da própria ignorância funda
até que soe uma reza

cada árvore filosofa
na raiz que não se mostra
na folha que se desprende
pergunta é tronco sem galhos
sabe que o vento o molda
mas resiste feito lenda
a ceifa da juventude
não corta a seiva do tempo
só deixa a dúvida em flor
velho cipreste murmura
quem ama já entendeu
que entender não basta

o saber que acende dentro
não precisa de palavras
basta o cheiro de fumaça
se o mundo pede sentido
respondo com um assobio
entre mate e solidão
as palavras são espelhos
de um fogo que já queimava
antes do nome existir
tornar-se carne é missão
mas é sangue que dá rumo
ao que só pensava em luz


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