Na coxilha onde nasci,
vi primeiro o sol campeiro,
um tordilho, o mundo inteiro,
me levou no colo ali.
Meu avô, feito raiz,
de Silveira e de Brasil,
me ensinou desde o barril
que o silêncio é quem mais diz.
Sou mistura de tropel
de açoriano e charrua,
com a alma velha e nua
de quem fala olhando o céu.
Na bombacha da infância,
dancei a dança da história,
fui herdeiro da memória
de um povo em perseverança.
No 20 de setembro,
meu lenço tinha sentido:
era um sonho colorido
que queimava sem o tempo.
E o CTG era abrigo,
feito rancho da verdade,
onde a trova é liberdade
e o gaiteiro canta antigo.
Pensar é como domar
um potro nos olhos d’alma:
ou se quebra ou se acalma,
mas nunca deixa de amar.
Na estância da existência,
filosofar é tirar leite
do silêncio mais estreite
que há na voz da consciência.
Não fui feito pra fugir
do que o real me apresenta:
cada dúvida é uma venta
que o campo vem traduzir.
O real não tem floreio,
nem bandeira de ilusão,
é chão duro de galpão
e o suor que escorre alheio.
O idealista, coitado,
tropeia na própria sombra,
não vê que a vida assombra
quem não pisa no pesado.
Gilson, santo do arreio,
disse certo, e ainda serve:
"Pensar é coisa que ferve
no fogo de um povo feio —
não de rosto, mas de lida,
de enxada, brida e respeito,
gente que busca no peito
a verdade resolvida."
Não há flor que floresça
sem raiz onde se encoste,
nem razão que se aposte
sem o barro da cabeça.
Chove em mim filosofia,
feito goteira em galpão.
Cada pinga é reflexão
do que fui ou ainda seria.
A ignorância é bicheira
que infesta o lombo do gado,
e o saber, bem trabalhado,
é a cura campeira inteira.
Tropeiro do pensamento,
sigo estrada sem cercado:
quem conhece o ser molhado
respeita até o relento.
No pescoço da alma,
penduro um lenço de reza,
e o tempo, feito certeza,
mata a pressa e acalma.
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Alguns provérbios e declamações
“Quem não laça a própria dúvida,
vive solto no galpão da ignorância.”
“Cavalo sem freio é ideia
que ainda não viu o mundo.”
O mato ensina o que a escola esquece:
ouvir o que não se diz.”
O saber é como o trigo:
só cresce onde se ceifa com fé.”
Toda sombra é pergunta.
Toda luz é resposta em silêncio.
Entre a palha e a verdade,
a fumaça sobe lenta.
O galpão vira uma tenta
de pensar com humildade.
E se a vida é peleia,
então Deus é o capataz
que não grita, mas nos traz
pela rédea da ideia.
Também tive erudição,
pois reencarnação é roda,
tive toga, já fiz moda,
Mas na luz baixa do lampião.
Vivenciei filosofia viva
não se lê, se sente e canta,
feito trova que levanta
a poeira mais altiva.
Venha, irmão de alma torta,
senta aqui, toma um amargo:
que a verdade vem do largo,
e a mentira... pela porta.
Quem puxa cepo comigo
E ombreia com capataz
Leva a pureza consigo
E não morre assim no más
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