DECIMAR BIAGINI

DECIMAR BIAGINI
Advogado e Poeta Cruzaltense

Entre em contato com o advogado Decimar Biagini

Nome

E-mail *

Mensagem *

domingo, 8 de junho de 2025

Autobiografia de um Filosófo de Galpão

Autobiografia de um Filosófo de Galpão, O Real no Espelho do Campo, pelo poeta Cruz-altense Decimar da Silveira Biagini


Na coxilha onde nasci,

vi primeiro o sol campeiro,

um tordilho, o mundo inteiro,

me levou no colo ali.

Meu avô, feito raiz,

de Silveira e de Brasil,

me ensinou desde o barril

que o silêncio é quem mais diz.



Sou mistura de tropel

de açoriano e charrua,

com a alma velha e nua

de quem fala olhando o céu.

Na bombacha da infância,

dancei a dança da história,

fui herdeiro da memória

de um povo em perseverança.



No 20 de setembro,

meu lenço tinha sentido:

era um sonho colorido

que queimava sem o tempo.

E o CTG era abrigo,

feito rancho da verdade,

onde a trova é liberdade

e o gaiteiro canta antigo.



Pensar é como domar

um potro nos olhos d’alma:

ou se quebra ou se acalma,

mas nunca deixa de amar.



Na estância da existência,

filosofar é tirar leite

do silêncio mais estreite

que há na voz da consciência.

Não fui feito pra fugir

do que o real me apresenta:

cada dúvida é uma venta

que o campo vem traduzir.



O real não tem floreio,

nem bandeira de ilusão,

é chão duro de galpão

e o suor que escorre alheio.

O idealista, coitado,

tropeia na própria sombra,

não vê que a vida assombra

quem não pisa no pesado.



Gilson, santo do arreio,

disse certo, e ainda serve:

"Pensar é coisa que ferve

no fogo de um povo feio —

não de rosto, mas de lida,

de enxada, brida e respeito,

gente que busca no peito

a verdade resolvida."



Não há flor que floresça

sem raiz onde se encoste,

nem razão que se aposte

sem o barro da cabeça.



Chove em mim filosofia,

feito goteira em galpão.

Cada pinga é reflexão

do que fui ou ainda seria.

A ignorância é bicheira

que infesta o lombo do gado,

e o saber, bem trabalhado,

é a cura campeira inteira.



Tropeiro do pensamento,

sigo estrada sem cercado:

quem conhece o ser molhado

respeita até o relento.

No pescoço da alma,

penduro um lenço de reza,

e o tempo, feito certeza,

mata a pressa e acalma.



______/\______

Alguns provérbios e declamações



“Quem não laça a própria dúvida,

  vive solto no galpão da ignorância.”

“Cavalo sem freio é ideia

  que ainda não viu o mundo.”

O mato ensina o que a escola esquece:

  ouvir o que não se diz.”

O saber é como o trigo:

  só cresce onde se ceifa com fé.”

Toda sombra é pergunta.

  Toda luz é resposta em silêncio.



Entre a palha e a verdade,

a fumaça sobe lenta.

O galpão vira uma tenta

de pensar com humildade.

E se a vida é peleia,

então Deus é o capataz

que não grita, mas nos traz

pela rédea da ideia.



Também tive erudição,

pois reencarnação é roda,

tive toga, já fiz moda,

Mas na luz baixa do lampião.

Vivenciei filosofia viva

não se lê, se sente e canta,

feito trova que levanta

a poeira mais altiva.



Venha, irmão de alma torta,

senta aqui, toma um amargo:

que a verdade vem do largo,

e a mentira... pela porta.

Quem puxa cepo comigo

E ombreia com capataz

Leva a pureza consigo

E não morre assim no más 

Nenhum comentário:

Qual tema nos poemas mais te atrai?